ATIVIDADES DOCENTES 

PAD - PROGRAMA DE APOIO AO DOCENTE - USP
 

GRADUAÇÃO
Uma forma mais atraente de ensinar

Roberto C. G. Castro

Uma das mais sérias causas de evasão escolar na USP — aquelas aulas monótonas, dadas por um professor que fala sem parar diante de alunos passivos e desinteressados — começa a ser combatida nesta semana de uma forma inédita. O professor do Instituto de Física da USP Claudio Zaki Dib, especialista em tecnologias da educação, dará início no dia 15 de setembro ao Programa de Apoio ao Docente (PAD), instituído pela Pró-Reitoria de Graduação com o objetivo de promover a melhoria e a inovação do ensino de graduação.

O PAD prevê a realização de várias atividades, desde palestras e cursos até orientação sobre práticas pedagógicas e materiais educativos a ser adotados, sempre visando a tornar o ensino mais atrativo aos estudantes. A primeira iniciativa do programa é o Curso Básico do PAD, que o professor Dib dará a partir do dia 15, às 16 horas, no Instituto de Física da USP. Já com as 34 vagas preenchidas, o curso terá 20 horas de duração — dividido em dez sessões de duas horas cada, sempre às quartas-feiras. Nele, Dib terá tempo suficiente para expor suas inovadoras idéias sobre educação.

O que o professor pretende mostrar é a falência do ensino formal — tal como é praticado hoje na Universidade — e a necessidade de desenvolver uma prática pedagógica "não-formal". Segundo ele, os métodos tradicionais de ensino — baseados nos cursos expositivos, na passividade do aluno e nas provas feitas apenas para atender a uma exigência burocrática — são reconhecidamente ineficientes, produzem resultados modestos e precisam ser substituídos por práticas que levem em conta os conhecimentos científicos do processo de ensino e de aprendizagem. "No ensino formal, a ênfase é dada no ensinar, e não no aprender: cumpre-se um programa, sem se importar com o aprendizado do aluno", critica Dib. "O professor é o centro do sistema: ele dá a aula e tem um programa a cumprir, enquanto o estudante é um elemento secundário."

Ele destaca que, no sistema formal de ensino, os professores geralmente desconhecem o perfil dos alunos. Sem saber o nível de conhecimento da classe, os docentes ministram aulas que não serão entendidas pelos estudantes. "Nesses casos, a culpa pelo insucesso do ensino recai sobre os alunos, e não sobre o sistema", indigna-se. "Tudo isso faz com que o aluno perca o interesse pelo curso e provoca o aumento das taxas de evasão escolar."



O ensino não-formal

Baseado em pesquisas que realizou em vários países da América Latina, Dib está convencido de que, também na USP, os professores estão insatisfeitos com o modo como ministram suas aulas e desejam conhecer novas formas de tornar o ensino mais atraente e agradável. "O que percebemos, pela nossa experiência, é que os docentes querem fazer a passagem do ensino formal para o não-formal, mas não sabem como", diz o professor.

Essa passagem da prática pedagógica formal para a não-formal deve ser feita de modo gradual — e não radical e repentino —, afirma Dib, adiantando o que vai expor durante o Curso Básico do PAD. Ele tem uma estratégia para que essa mudança se realize sem grandes traumas. Primeiro, os docentes precisam fazer uma lista das características da educação formal existentes nas próprias aulas que ministram — a linha expositiva, a necessidade da presença dos alunos diante do professor e a passividade dos estudantes, entre outras. Em seguida, eles deverão, gradualmente, eliminar cada uma dessas características, substituindo-as por outras práticas. Pode-se mandar a classe pesquisar um tema ao invés de ouvir uma aula, por exemplo, ou formar grupos de discussão em lugar de deixar os alunos parados, apenas ouvindo o expositor. "Se eliminamos uma característica, o ensino não se torna não-formal, mas fica um pouco menos formal", ensina Dib. "Aos poucos, eliminando gradativamente as práticas formais, estaremos cada vez mais perto de uma educação não-formal, que enfatiza o aluno e o aprendizado — e não o professor, o ensino e o sistema administrativo."

A educação não-formal requer uma "ampla revisão" dos materiais pedagógicos utilizados, lembra. Na educação a distância — uma forma de ensino não-formal que requer pouco ou nenhum contato com o professor —, por exemplo, o aluno aprende através de textos, cadernos de atividades e materiais audiovisuais. Como a qualidade desse material é essencial para o sucesso do ensino, Dib destaca que ele precisa ser feito por uma equipe profissional, que inclua especialistas de várias áreas — desde a pedagogia e a psicologia até diagramadores, artistas gráficos e arte-finalistas. "Não há inovação pedagógica sem novos materiais. E estes não podem ser objeto de improvisação, mas têm de ser produzidos por uma equipe altamente especializada", propõe o professor, acrescentando que a educação não-formal dá a devida importância do livro, "sub-utilizado" na educação formal.

Para Dib, a mudança das práticas pedagógicas na USP é uma necessidade "fundamental", uma vez que o ensino formal se tornou obsoleto diante das novas tecnologias da educação. Ele lembra que várias universidades do exterior — inclusive em países como Chile, Colômbia e Argentina — mantêm há anos programas de educação a distância. Nos Estados Unidos e Europa, já existem as chamadas universidades virtuais, em que os cursos de graduação são feitos via Internet.

O professor sabe o que está falando. Ele é um dos mais experientes especialistas do Brasil em novas tecnologias de ensino. Doutor pelo Instituto de Física da USP com uma tese sobre tecnologia da educação aplicada ao processo de ensino e aprendizagem em física, ele dirigiu cerca de 200 projetos educativos em empresas governamentais e privadas brasileiras. É consultor para programas educacionais de universidades, instituições e organismos internacionais — entre eles a Unesco. Publicou 12 livros — um deles, Tecnologia de la educación y su aplicación al aprendizaje de física, editado no México.